Foi com esse relato emocionado que a equipe do Santuário de Elefantes (SEB), localizado no distrito Rio da Casca (100 km de Cuiabá), em Chapada dos Guimarães , anunciou, nesta terça-feira (25), a morte de Guida, a primeira elefanta a chegar em Mato Grosso, ainda em 2016.
Maia, Rana e Guida
De acordo com a ONG internacional Global Sanctuary for Elephants, responsável pelo santuário, Guida nasceu na Tailândia, mas foi sequestrada ainda bebê, para trabalhar em um circo pela Ásia. Quando foi resgatada pela ONG, viveu por um tempo, viveu em um sítio no interior de Minas Gerais, até que chegou, com a elefanta Maia, em Mato Grosso.
Guida em seu banho
O santuário que abriga agora duas elefantas tem mais de 1,1 mil hectares de área. Em dezembro de 2018, Guida e Maia ganharam Rana como companheira.
A morte de Guida foi constatada na noite de segunda-feira (24). Ela tinha cerca de 45 anos. Em média, um elefante pode viver 70 anos. Contudo, se for criado em cativeiro, o tempo é reduzido para 35 anos. Apesar de superar a expectativa de vida, sua morte será investigada.
Guida no por do sol
Guida foi encontrada presa em uma trilha estreita, com a mobilidade reduzida e aparentando fraqueza, segundo o anúncio.
'Guida é a nossa menina que sempre escolheu seguir os caminhos mais difíceis, esta dificuldade não era comum. Não sabemos porque sentiu que estava presa, mas a ajudamos sair, alargando um pouquinho o caminho com varas e a encorajamos com palavras, e, assim, saiu da trilha. Depois ela parecia se sentir presa no riacho, que é muito raso. Seu corpo parecia exausto, suas pernas entortavam ligeiramente de vez em quando'.
Uma retroescavadeira foi usada para ajudar Guida a se mover, já que ela não conseguia sozinha. Ainda no trajeto, a elefanta se apoiou em um monte de terra para descansar, mas não voltou a se levantar, até que parou de respirar.
Maia e Guida chegaram em Chapada dos Guimarães no dia 11 de outubro de 2016 no Santuário de Elefantes.
Maia, 44, e Guida, 42 teriam nascido em liberdade, sendo capturadas na Tailândia quando ainda eram filhotes. Apanharam muito, foram privadas de sono e comida para se tornarem 'obedientes' aos adestradores. Trabalharam por quatro décadas como atração de picadeiro no Circo Internacional Portugal e em 2010 foram confiscadas pelo Ministério Público da Bahia. Após ser assinado um termo de ajustamento de conduta (TAC), as elefantes passaram a viver em um sítio em Paraguaçu, no sul de Minas Gerais.
Do passado de Maia e Guida, sabe-se muito pouco, já que a ONG Santuário de Elefantes Brasil não recebeu nenhuma documentação com o histórico das duas. O que se sabe sobre elas vem de relatos de tratadores e ex-tratadores. Mesmo a idade das duas é aproximada.
Até domingo passado, as duas dividiam um cercado de 1.500 metros quadrados e a partir desta terça feira 11 de outubro de 2016 conquistaram 1.100 hectares (cada hectare equivale a um campo de futebol) como seu merecido descanso. Os custos da viagem ainda não foram totalizados pelos organizadores. Só as caixas para transportar as elefantes custaram R$ 80 mil. Uma parte do dinheiro veio de doações através de uma plataforma digital de financiamento coletivo.
O Santuário de Elefantes Brasil (SEB) aqui em Chapada dos Guimarães foi construído nos moldes do Elephant Sanctuary in Tennessee (TES), nos EUA, instituição criada em 1995 e hoje parceira da ONG brasileira. Scott Blais, cofundador do TES, é o responsável pelo plano de transporte de Guida e Maia e supervisão da empreitada.
Tocando em frente
"Maia passou todo tempo que quis ao lado do corpo de Guida, vimos as pegadas por todas as partes. Também encontramos rastros da Rana do outro lado da cerca, bem próximos de onde Guida estava. Sabemos que ela se aproximou, mas não temos certeza do quanto.
Durante a manhã mantivemos Maia e Rana nos piquetes mais próximos ao galpão, para a necrópsia da Guida. A primeira vez que Maia viu Rana após o ocorrido ela parou, não a cheirou nem tocou com a tromba, apenas chegou pertinho e ficou parada ao seu lado por alguns minutos. Rana está sendo respeitosa e dando espaço a Maia, isso demonstra como ela aprendeu suas lições com Maia e Guida desde que chegou ao SEB.
Pouco tempo depois, Maia foi até Rana novamente e colocou a tromba dentro de sua boca. Rana permitiu toda a interação, sendo doce e gentil, mas sempre atenta aos sinais e às emoções de Maia.
As duas parecem estar firmes, Maia está introspectiva, mas apesar dos pesares, passa bem. Quando a necrópsia foi finalizada, abrimos novamente todos os portões entre os piquetes e agora Maia e Rana tem acesso ao local em que Guida está enterrada.
Maia velando o corpo da amiga Guida
Com o passar do tempo, nossa nova realidade vai ficando mais clara aqui no SEB. Com a restauração da rotina, sem ter que coordenar toda a logística das atividades da necrópsia, tivemos que lidar de fato com o primeiro dia que não veríamos a linda expressão de Guida. Sem dúvida, começamos o dia com um aperto no coração.
Mas de repente, observando as galinhas, patos e outros animais ao redor da sede da fazenda, percebemos uma luz diferente no céu, uma luz única se comparada aos já familiares primeiros raios de sol do dia vindos do leste. Nesse momento nosso sentimento mudou. Essa é a nossa nova realidade. Guida agora ilumina todos nós, seu espírito não tem limites e a qualquer instante que pensarmos nela, sentiremos sua alegria e ouviremos seus doces roncos. Guida, sempre carregaremos em nossos corações felicidade e imensa gratidão pela jornada de união que compartilhamos. " Publicação do Santuário de Elefantes Brasil