A mudança de plataforma, forçada por um problema de saúde que lhe criou dificuldades motoras, abre mais um espaço para a criatividade da artista, que já esteve impressa em telas, objetos, murais e na poesia. Para o primeiro semestre de 2017, ela prepara uma exposição, ainda sem local definido, com as pinturas produzidas nesta fase de sua vida.
Reprodução da Obra de Regina Pena: criatividade expressa em diversos suportes
Regina descobriu uma esclerose múltipla em 2006, e a demora para obter um diagnóstico correto lhe causou danos, deixando-a com os movimentos dos braços e das pernas limitados. Foram seis anos com um diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral (AVC) até que a verdadeira causa de seus problemas de saúde fosse descoberta.
Utilizando o aplicativo Sketchbook, Regina Pena vem realizando suas pinturas e também estudos com formas geométricas, em especial cubistas, dando um novo rumo à sua estética. 'Eu queria avançar, experimentar novas formas', enfatiza.
As pinturas digitais também têm sido impressas em canecas, que são vendidas diretamente pela artista e por amigos. A mudança para a tela digital, porém, não veio sem questionamentos. 'Eu pensei inicialmente, 'ah, eu não vou gostar', me parecia uma coisa muito fria. Mas eu descobri que, se existe um potencial criativo, você pode trabalhar em qualquer suporte', conta Regina.
Antes do digital, ela ainda buscou experimentar com as palavras, na poesia. 'Eu tinha que produzir, eu não podia ficar parada, essa força interna é muito forte', lembra ela com relação ao período que se seguiu ao diagnóstico da esclerose.
A poesia se tornou então o 'lugar' para dar vazão à criatividade. Com utilização do haicai, formato japonês que utiliza sequência de 5, 7 e 5 sílabas, ela passou a falar sobre a natureza que encontrou nos lugares onde viveu: Cuiabá (MT), Chapada dos Guimarães (MT), distrito de Bom Sucesso (MT), Santo Antônio (MT) e Cascavel (PR).
A ideia de se voltar para a poesia partiu da amiga Alda Couto. O período foi fértil, com a criação de cerca de 80 poemas que deram origem ao livro 'Vôo Solo', publicado em 2015 pela editora Entrelinhas. No livro, também estão presentes diversas pinturas da artista, impressas em papel especial.
Reprodução do Autorretrato da artista
Curiosidade inicial
Regina Pena faz parte de uma geração de artistas que frequentou o Ateliê Livre da Fundação Cultural, atual Secretaria de Estado de Cultura (SEC), durante as décadas de 1970 e 1980. Nomes como Adir Sodré, Dalva de Barros e Gervane de Paula estão entre os artistas que tiveram o início de sua formação naquele ambiente.
As sensações táteis da pintura e o trabalho artesanal de montar as próprias telas causaram uma forte impressão em Regina durante aquele período. 'Aquilo me encantava. Você tinha que esticar o tecido, até ele ficar igual a um tambor, passar de três a quatro mãos de tinta, e tudo isso antes de iniciar o processo de pintura', relembra.
Contudo, o ímpeto de observar a natureza e suas formas, e produzir arte com isso, veio antes dos estudos realizados no Ateliê Livre. 'Eu tinha oito anos de idade quando vi a primeira forma perfeita. Viajávamos em um 'Fordeco' e quando o carro parava na estrada, que era muito ruim, eu saía para ver a natureza nos arredores. Foi em uma dessas paradas que vi a armadilha de um piolho-de-urubu (nome popular da Formiga-leão) em formato de cone, um funil perfeito', lembra Regina.
A artista se perguntava então, como poderia haver uma forma tão primorosa feita pela natureza. Foi o questionamento inicial para o desenvolvimento de sua curiosidade artística. Mais adiante em sua vida, a observação de plantas como o Cróton e animais como o Biguá acabou por moldar a estética de sua obra.